sábado, 27 de fevereiro de 2010

Tem alguém na porta


Deixe a vida entrar com que ela quiser.
Deixe o céu abrir com a cor que ele apresentar.
Deixe o mar molhar os cabelos com a temperatura de um grito seco.
Deixe os sonhos mergulharem no mais obscuro medo do seu peito.
Deixe o seu corpo dançar a música que você tem mais vergonha
Deixe sua voz pedir por uma frase de impacto que só você entenda.
Toc.
Toc. Toc.
Toc.
Toc.
Se alguém chegar com frio, é porque você tem o cobertor mais quentinho da cidade. Se alguém chegar com fome, é porque o seu almoço está querendo outro ventre. Se alguém chegar com uma lágrima, é porque você tem a alegria e ombros amigos. Se alguém chegar com um sorriso, é porque você tem um ótimo modo de comemorar. Se alguém chegar com medo, é porque você tem o abrigo. Se alguém chegar atordoado, é porque você tem o silêncio. Se alguém chegar com falta de esperança, é porque você tem as palavras certas. Se alguém chegar com ódio, é porque você pode dar amor. Se alguém chegar com mentiras, é porque você pode rebater com a verdade. Se alguém chegar com uma piada, é porque você tem uma gargalhada. Se alguém chegar com sede, é porque você tem água gelada. Se alguém chegar com dúvidas, é porque você tem a fé. Se alguém chegar com calor, é porque seu ventilador está funcionando muito bem. Se alguém chegar com o luto, é porque você pode mostrar um pouco de Deus. Se alguém chegar com tédio, é porque você tem os programas diferentes embalados por um delicioso gosto musical. Se alguém chegar querendo um amigo, é porque ele pode ser você. Se alguém chegar cansado, é porque você tem uma cama confortável e ótimos filmes engraçados. Se alguém chegar com desequilíbrio, é porque você tem a segurança. Se alguém chegar, é porque você está ai.
Sempre que baterem na porta lembre-se que é porque existe um pouco das melhores atitudes do universo dentro do seu peito. Queira abrir a porta. Quando você precisar, estaremos todos aqui. Ele sempre capacitará alguém para acolher suas necessidades quando bater, mas não deixe de ouvir quando Ele estiver tentando te capacitar para abrir a porta.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Internalize para externalizar



Voando ao susto do sentimento súbito, percorro meu itinerário afundando-me pelos labirintos da alma conformada. Ainda que a terra me percorra, ninguém do solo poderia me definir por completo. Meu vôo é lânguido e aterrisa entre as núvens mais claras dos meus pensamentos. Fragmentada em palavras desconexas, atiro-me no abismo do meu entendimento nítido. Conforme me exploro, as palavras embalam-me e transformam minha agonia em melodia lúcida. Só assim posso enxergar as páginas, sob um espectro de luz grandiosa. Sinto-me mergulhando nas certezas do mundo. Em queda rápida e serena sinto os planetas desconhecidos acariciarem meus mistérios, com seus tênues espinhos verdes.
Minha essência derrama, transborda, modifica. Enquanto soprava minhas feridas abertas, o vento atirava-me para longe de mim mesma. A nostalgia do futuro umedecia meus olhos escuros, contraindo meu peito ainda mais que os botões vestis. Pouco a pouco o coração afagava minhas lágrimas silenciosas e não deixava espaço para as fúrias passadas. Não havia tempo para o rancor. Não há mais tempo para a raiva humana dominar os nossos pensamentos e atitudes.
O mundo está gritando. Não precisa abrir a porta, ligar a televisão, nem escancarar todas as janelas para escutar. O grito está dentro de você. Já gritamos a tanto tempo juntos que desaprendemos a ouvir. Somos tão dependentes uns dos outros que é ilusão pensar que estamos sozinhos. Esta dependência é tão evidente, que ao negá-la, só estamos demonstrando o quanto somos orgulhosos e incapazes de admitir a nossa pequenez. Ainda que te abandonem, existe algo que nos responde no íntimo. Estamos de alguma maneira misteriosamente conectados, mesmo que tão diferentes um dos outros.
Não deixe o sistema vendar seus olhos. Estamos incorporando novas formas lamentáveis de render nossos corpos a uma espécíe de hedonismo e materialismo irracional. Hipócritas seremos até o último dia das nossas vidas, querendo ou não, é um espinho humano. Uma condição.
Embora sejamos fracos e dependentes um dos outros, e que reconhecer isso, não evidência uma baixa auto-estima, e sim a capacidade de reconhecer aquilo que somos enquanto indivíduos, enquanto seres humanos, compreenda que cada vida é um livro a ser minuciosamente explorado com amor e atenção. Se não quisermos sofrer as conseqüências da dependência negativa, teremos que nos auto-organizar.
É interessante observar como cada um possui um grau próprio de disponibilidade interna para lidar com as demandas externas. Isto é, algumas pessoas são capazes de se manter ligadas ao mundo exterior por mais tempo que outras. A dependência saudável nos torna cada vez mais ágeis, mais livres para fluir. Lanço minha voz ao vento, sem ponto de partida ou chegada. Clandestina, passageira, minha história é o presente. O presente é o meu futuro.
Cada vez que perco-me dentro de mim mesma, olho para o mundo e percebo um pouco de céu, não porque assim vejo, mas sim porque ainda acredito em todos nós.
"No meu coração fiz um lar, o meu coração é o teu lar."


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Tic Tac



Estava quase na hora. A cama parecia um ninho. Eu enrolada em um cobertor cor de primavera, sentindo minha alma como um prédio abandonado, num bairro em que ninguém era capaz de me conhecer por completo. O relógio foi correndo, os ponteiros giravam para lá e para cá. Levantei num grito e subi na mureta. Sem pensar em nada, olhei fundo lá para baixo determinada a me jogar como um herói que salta de um edifício e sabe que vai voar. Parecia que balões flutuantes me guardariam na proteção colorida. Eu voaria para a liberdade.

Foi então que o despertador tocou acordes gritantes. Algo me veio a mente desenhando letras deliciosas por uma lembrança passada do cuidado Dele comigo. “O sol me acordou em silêncio, mas parecia iluminar cada célula com tom de mistério. Pode um relógio marcar as horas da sua vida, Paula? É Deus quem marca as horas da sua vida. E olha que sol lindo Ele escolheu para acordar você!" Não importa o que pensem sobre Ele, ninguém nunca irá defini-lo em fase terrena. Mas importa muito o que Ele pensa sobre você. Ele não julga. Nada do que possa fazer irá mudar a condição dele acorda-lo com um sol brilhante, cheio de vontade de iluminar seu sorriso. Você foi escolhido, talvez um dia consiga perceber a responsablidade de ter um objetivo nessa esfera azul, assim que tira-la de dentro do seu umbigo e começar a percebe-la dentro do outro, como um coletivo cordão umbilical. Que tal deixa-lo surpreender você hoje?

Basta pedir e perceber.

Boa sorte, o despertador começou a tocar.


Dentro de mim explode uma festa que não sabe ser muda.
Cores explodem no meu interior, e eu nem preciso estar feliz.
Não estou buscando por intensidade, existe uma calma tão alegre.
Meu coração insulta uma natureza abertamente Paula, No campo das idéias, o existencialismo tornou-se a grande mania do meu refúgio. Como paradigma, acerbo das provações a expurga, a tempera, a nobilita, a regenera. Então vim a perceber vivamente que imensa é a sorte de podermos mudar nossos discos. Na minha simplória opinião, a culpa, se é que existe alguma, deve ser aquela do que não foi feito.
O que importa de verdade é dançar mesmo assim, porque lá fora derramam dias
repletos de chances de nos reinventarmos.
Tenho mania de ser feliz, Essa é a minha loucura e também a minha contradição.
Não gosto de crianças de castigo por sujar a roupa, peixes em aquários, pés cheios de saltos, cachorros em coleiras, pássaros engaioados, água em garrafas, espelhos sem visitas...
Eu gosto mesmo é de observar a vida acontecer. De fotografar meus ponteiros e aproveitar cada segundo desse universo tão carinhosamente feito pelo Criador.
Não importa mais o que gostam de pensar ao meu respeito.
Não importa mais o que precisam fazer para me traduzir.
Não importa mais o que acham entendem sobre a minha natureza.
Não importa mais o carma de tentarem me definir.
O que importa de verdade é que eu sei quem eu sou e Ele também.
Hoje eu me sinto muito mais envolvida com o tato das minhas profundezas, com meus mistérios, impulsos e conflitos. Porque temos em nós o poder de não sermos e apenas estarmos.

"Não fui o que os outros foram
Não vi o que os outros viram
Mas por isso, o que amei,
amei sozinho."


Silêncio


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pisando nos próprios calos

Ela é apenas um tiro no escuro que gosta de ecoar um nome escolhido para que a identifiquem como Paula.
Esconde-se entre armaduras invisíveis uma tímida de teor reversível. De donzela só a voz.
Pela cidade mora como ruído agúdo que às vezes apresenta-se meio rouco, sente falta mesmo é do silêncio. Seus pés branquinhos cobertos por veias azuis aconchegam-se na grama crescente de quintais desconhecidos, afundam firme pela areia delicada de seus paraísos imaginários, às vezes sai pisando fundo pelo asfalto quente com seu All Star desamarrado. O chão pesa e ela sabe disso.
Pisoteante afoga seus pés em saltos para não sentir o piso de mármore lembrar que sua pele é tão fria quanto o chão. Mesmo assim, se precisar entregar seus sapatos para qualquer pessoa que precise deles, mal importa-se se ficarão sujos, se gelará os dedos ou se sentirá seus pés queimando como o chá borbulhante que toma quando sente medo do céu desabar sobre seus sonhos de garota carioca.
No fundo ela é boa e não para de tentar. De vestidos coloridos ou roupas mulambentas a notável palidez indolor aparenta querer saltar de seus poros.
Cabelos banhados em pleno breu sincero parecem confessar seu mistério. Singular expressão facial parece não conseguir parar de assumir seu grande amor pela humanidade.
Gosta de provocar gargalhadas após sondar o ambiente ao seu redor. Sente-se surda dentro dos seus medos e atenta aos medos alheios. Sem tinta no cabelo, sem rótulos e sem cortes, é apenas uma alma pulsando um corpo vivo. Garota no espelho que só quer sorrir ao notar o quão triste pode ser se deixar a vida atropelar suas bochechas de criança. É fácil penetrar o seu universo diferente dos demais, está sempre procurando uma forma de meditar vibrações boas para cada pessoa que conhece, até mesmo as quais ela não se identifica. Sua alma é faminta por intensidade, violenta e atormentada sabe-se lá o porquê. Tem em sí uma sede de mudar o mundo, mesmo sabendo que tal sede é maior do que sua armadura é capaz. Mergulha em livros, nos problemas de cada coração ao seu redor, assim ela consegue voltar sem nostalgia a sua infância tão cheia de fantasias peculiares. Mistura-se entre gargalhadas, lembranças, dias, discos e lágrimas. Com uma pinta notável no rosto, vermelhidão vibrante nos lábios e olhos mais escuros que sua hipocrisia humana lamentável, dança por suas vestes. Pouco se importa em não ser perfeita. O que verdadeiramente importa é que sempre está em constante metamorfose ardente. Dessas que vão rasgando sua carne para mostrar o quão barulhentamente colorido é o espírito que tem dentro de sí. Isso sim está em crescente evolução nesses anos viventes.
Nossa, olha lá! ela não é mais a mesma, parece mulher. Nossa, que adulta interessante está se tornando. Tão certa das suas vontades... mas não se iluda, ela continua sendo a mesma garotinha querendo transformar tristeza em poesia.
Acho que agora posso deitar no chão, já não tenho mais medo dele.
Depois de encostar minhas costas de bailarina que não dança e esmagar cada lágrima doente, andarei com asas de cartolina que nada podem fazer a não ser me deixar absorta nos meus próprios devaneios que nada querem fugir.