domingo, 22 de janeiro de 2012

Apague a luz



Tatear as próprias trevas entre as cavas nos proporciona a
expansão da consciência. Tomar-se num só gole sem vestígios de mistério sempre foi para a humanidade uma espécie de tabu. Se voltarmos a natureza primitiva dos míticos "Adão e Eva", aos vestígios do inconsciente e até mesmo aos estudos do desenvolvimento da consciência humana, podemos analisar que a descoberta do "eu" é o início de uma metamorfose dolorosa e magnífica. Podemos observar esta característica humana nas mais diversas etapas e situações existenciais. A infância é o grande palco, afinal nesta etapa não sabe-se o que o "eu" representa e a sensação mais comum é a de ameaça, principalmente em contextos onde seus pais ou símbolos de proteção não evidenciem alguma presença. Lembra do seu primeiro dia na escola? ou naquela apresentação onde só quem passava segurança eram os rostos mais familiares?
Todos nós já passamos por situações deste porte, inconscientemente e conscientemente. E isso não muda muito durante a fase adulta. Quando nos conectamos dentro de um relacionamento, dependendo do grau da fusão entre um indivíduo e o outro, ao haver um rompimento, a sensação pode ser de que o "eu" foi embora junto. O vazio ecoa pela existência e ai inicia-se o processo de conscientização do tênue "eu". Lidar com "o outro" é um desafio desde o início da nossa psique.
Quem nunca teve a sensação, ainda que durante a infância de que a luz é o símbolo protetor?
É ai que mora o risco. A luz não nos ilumina o que há de sombrio. É preciso despir-se do medo do silêncio e do oculto. Quantas vezes estamos sozinhos em casa e ligamos a televisão desmotivadamente, só pra sentir uma presença mesmo que invisível? Quantas pessoas morrem sem experimentar o poder da meditação? Será a consciência uma dádiva ou um sofrimento?
A consciência é o único caminho para o real. A consciência é o único rumo que nos movimenta para fora. A consciência nos faz ser o "eu" em sua mais excêntrica esfera. Uma das consciências mais importantes da vida é a de que não devemos nos apegar aos papéis que vivemos, nem as coisas que possuímos. Devemos nos apegar às coisas permanentes, essenciais, imateriais. Devemos descobrir o que nos transcende e transborda. Compreender-se é reinventar-se. Reinventar-se é a única maneira que mantém a vivacidade e a consciência no presente pleno. O ego precisa de flexibilidade para apropriar-se ao momento de modo real.
Feche os olhos e permita-se sentir medo. Permita-se sussurrar seus cantos fantasmagóricos. Grite sua mais pura essência selvagem. Descubra o seu "eu" no escuro da consciência mórbida porque ao acender a luz, a metamorfose dará o tom que guiará a sua existência superiormente interessante: A existência daquele que livrou-se das falsas roupagens da covardia e atirou-se na miragem do falso abismo da consciência sem medo de nunca mais voltar para a casca comoda.
Quem enxerga no escuro, não teme ao claro.