terça-feira, 21 de junho de 2011

Gobelin

Toda vez que fazia silêncio, debruçava em seus pensamentos como um gatinho no peitoril da janela: Estático, porém em alerta. Tinha pálpebras puras como um de um vestido de noiva, porém num tule negro escapavam seus olhos densos como um buraco negro. Era tecida de linhas multicoloridas e ao mesmo tempo formada por um expesso xadrez desgastado. Para não declamar sua palidez, vestia-se com vestidos violentos, quase que entusiásticos. Numa fracção de mil detalhes era parte ninguém e parte todo mundo. Com a boca tecida de moiré bordô sorria calmarias e engolia tempestades num só penar. Seu coração era como um sinuoso ballet rendado das mais variadas emoções impetuosas. Coração que estalava em cacos e canções. Quando as dores apareciam adorava sentar na platéia da própria vida e assistir-se como uma trama anestésica, mas dificilmente era assim que acontecia. No palco era artesã de maus presságios, de grandes esperanças, alianças, sonhos e tentações.
Quando entrava em shoppings sentia cheiro de divórcio, era difícil que ela tivesse tal desencantamento do mundo. Mas quando tinha, via a tristeza humana em todas as esferas. A traição em todas as etapas, a falta de amor por todas as ruas e a solidão em cada passo célere. Quando sentia à alma desgarrada de si mesma, pedia calma para os vendavais de cetim.
Tão bom olhar as luzes da cidade, lá de cima de um precipício aterrador e assim como um tetris, ter a coragem de cair até encaixar e desencaixar, até enfim se erguer como um edifício tecido de bayadère. Foi assim que fez, num desencadear de mistérios tornou-se leve como linho...porque seus sorrisos eram tecidos partilhados em dois quintais distantes de toda a vã loucura, seguros de todo o perigo do asfalto. Como uma colcha de retalhos, abria seus sorrisos invisíveis em desalinho para o único sentimento que mudava tudo: O amor por quem a tece Paula.