Hoje, do que eu sinto falta...é do meu sorriso.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Autarquia
Dois terços de mim são saudades do que não vivi. O outro terço eu rezo pra ver se descubro o que é.
Não pense que é assim completamente rotineiro pra mim: Eu nunca gostei tanto de cicatrizes antes. Cicatrizes são como características que não se repetem em mais ninguém, nem nos universos mais loucos dos livros. Cabe a nós, na quietude do silêncio, destilar segundos vividos como quem permite-se aprender a ver beleza nas marcas. Não existe quem não saia marcado daqui, e é por isso que encostar os cotovelos em marquises gélidas, assistir as nuvens em sua dança celestial é pra mim, como dedilhar o reflexo e reconhecer a finitude anunciada. Nosso tempo está lançado e estar preso na estranha confiança que a gente tem em si mesmo nunca foi lá uma idéia que me agradasse, por isso tiro sonecas sem sentido, como num jeitinho freudiano de dizer pra mim mesma que só preciso acordar outra vez.
Rezo para que as horas, cicatrizes imutáveis dos relógios, levem-me ao tempo de mudar-me e manter-me. Levem-me, lavem-me e tragam dias passageiros com tanta beleza que se os pudesse tocar, sentiria-os desfazer entre os dedos. Tragam-me brisas capazes de fazer-me abraçar as pernas de tanta introversão. Tragam-me ao peito, aquele sentimento solto da liberdade de pertencer-me. E por fim, marquem este encontro de mim, comigo mesma para todas as manhãs daqui em diante.
Hoje eu chovi e molhei a primavera de cada poro deste corpo fechado.
Eis que solto-me aos dias e os respeito agora, assim como vierem. Mas que não se iludam, as manhãs. Não desisto fácil de lutar pelos sorrisos vividos em par. Nunca. E não sinto medo de dizer nunca. Porque nunca e sempre fazem parte das sensações absurdas que o peito desatina, e viver é respeitar o sentir. E sentir é ter a convicção de que mais ninguém no universo pode trilhar o seu caminho e viver sua história. E viver a sua história é notar que só você traz na alma o potencial de fazer-se autenticamente feliz. E fazer-se autenticamente feliz é ser você, ainda que chova. Mesmo que o imprevisível seja inegável, atreva-se a seguir seu próprio caminho, ainda que ele seja de dor. É seu e ninguém mais pode roubá-lo.
Agradeço a vocês, cicatrizes.
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