quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Let me breath

Fui planejada para nascer em 1992, minha mãe engravidou em um hotel em janeiro.
Nasci como um milagre em um dia vinte e três. No mesmo dia, do mesmo mês que a minha mãe nasceu. A bolsa foi rompida no exato horário do seu nascimento. Tive pouca chance de sobreviver. Era prematura, cabia na palma de uma mão adulta. Tive dificuldade de respirar, mesmo assim já existia uma fome de vida maior do que o mundo entre meus orgãos fraquinhos. Eu queria respirar o mundo. Eu queria viver entre todos vocês por algum motivo divino. Rasparam minha cabeça para passagem de medicamentos, colocaram-me em uma espécie de berço hermético que mantém uma temperatura constante, como um útero. Ainda na incubadora, meus pais conversavam comigo, observando meu coração bater mais rápido por reconhecer aquelas vozes que por sete meses me acompanhavam em fluxo diário. Enquanto a incubadora regulava a minha temperatura corporal, no meu bracinho tinha o nome de menina que me havia sido escolhido. Paula, era assim que as pessoas me chamariam. Entre cinco letras aceitava o meu único rótulo, meu nome. Eu não fui um bebê fácil, sempre tive distúrbios alimentares e de sono.
Passava madrugadas inteiras chorando um choro agúdo, quase insuportável. Eu tinha cólicas agressivas em determinados horários da noite. Por algumas vezes minha mãe pensou em não cuidar de mim, quando o desespero a visitava. Era realmente insuportável estar comigo, quase infernal. Foi preciso a ajuda de uma outra mulher, a Celina, um ser humano magnífico que também havia cuidado do meu pai durante toda a sua infância. Celina é o nome doce que não esquecerei por nenhuma fase da minha vida. A amo com todas as forças, minha infância inteira está guardada com ela. Sempre me envolveu com sua ternura e me protegeu para que eu tivesse uma infância feliz. Sempre me deixou fazer coisas de criança, sujar a casa com massinha, pular na cama, bagunçar o quarto inteiro, ralar joelhos, provar doces novos, rabiscar sua pele, entre milhões de besteirinhas. Me abraçava quando eu chorava, não conseguia me ver triste. Me colocava de castigo quando eu precisava, mas sempre teve uma paciência incrível. Sempre respeitou meus sentimentos, nunca achou que era frescurinha de criança. Confesso que o dia que ela for embora desse mundo, metade da minha história vai com ela. Não superarei fácil, será uma jornada realmente dolorosa. Mas não deve-se dizer essas coisas enquanto a vida ainda está pulsando alguém. Outra coisa que se aprende é que ninguém tem o direito de sufocar um ser humano, nem por amor. Cada ser humano tem a liberdade no sobrenome, Cristo mesmo foi quem deu. Ninguém tem direito de anular as escolhas alheias. Ninguém tem o direito de abrir a boca a respeito do que Deus nos deixou tatuado na alma: Asas. Direito de ser e fazer o que sentir vontade. Ele não é o menino mau em cima do formigueiro. Ele nos ama e deixa claro que onde houver amor, existe Seu nome. Essa mania de só pensar nas coisas que deixamos de fazer pelas pessoas apenas quando elas vão embora é extremamente burra. Vivemos em função dos nossos umbigos e vamos esquecendo que não somos nada sem algumas pessoas incríveis que nos fizeram ser o que somos. Tente pensar menos em você, não é arriscado. Lembre-se que as pessoas sentem, que não há nada no universo pior do que esquecer disso. Aprenda a respeitar o espaço de cada ser humano e a falar mais sobre o quão especiais são para você. Prometo que você não vai escapar ileso, vai aprender o que é amar alguém de verdade.
Amor sem respeito não é amor, amor sem saudade não é amor, amor sem carinho não é amor, amor sem perdão não é amor, amor sem cuidado não é amor, amor sem divisão não é amor.
Sentir o que o outro sente, como se estivesse no seu próprio corpo, isso sim é amar.
Respire e sinta que cada batida do seu coração é um milagre e que passar por essa vida sem aprender o que é amor verdadeiro é a mesma coisa que anular o real motivo de você estar vivo.
Ser é suficiente. Talvez ainda exista a mesma Paulinha dentro da incubadora, precisando lutar para sobreviver, com uma enorme vontade de respirar a vida. E quem se importa?
Ainda escuto as mesmas vozes que atentas estiveram torcendo para que eu conseguisse crescer e nas minhas artérias sinto o Criador fazer meu sangue pulsar, sem permitir que eu pare por um só motivo: Amor.










6 comentários:

Diana disse...

A sua doçura ainda me impressiona, assumo. Tanto afeto, tanta vontade de viver, sorver o mundo em um só gole lento. Encanta-me.
p.s.:acho que já disse, mas AMO as suas fotos.

Mônica disse...

É triste, mas a verdade é que apenas damos valor a coisas e pessoas quando as perdemos...
Lindo texto.
Bjs

Unknown disse...

"Por algumas vezes minha mãe pensou em não cuidar de mim". Nunca pensei em não cuidar,mas sim que aquela fase passasse rápido, foi realmente bem difícil para nós duas.(:

Taw disse...

Nossa!!! Nossa!!! Nossa!!! uau... Pouco entendo sobre amor humano-humano... mas considero realmente que as conexões são o que mantém ainda a espécie, que naturalmente é egoísta.

Muito legal seu princípio de vida e sua primeira superação.

muito legal!

Renatinha Araújo disse...

Oiieee!!
tudo bem??

Vi o seu blog na comunidade do Blogspot & Wordpress no Orkut e gostei bastante! ^^

Sorte e sucesso para você!

Convido-te para passar no meu também:
www.glamourfeminino.blogspot.com

Beijão!

Stella disse...

Paulinha, linda a foto!! :D
Nossa, deve ter sido uma infância difícil, né? Em compensação, quando a gente sabe que chegar no mundo foi assim tão duro, valorizamos mais nós mesmos por estarmos aqui. :)
Mamãe me disse que eu não queria nascer. rs Fiquei mais de 9 meses na barriga... ela quase teve que fazer cesariana. Mas no último instante, eu resolvi que era hora de nascer. Acho que a gente tem dessas coisas... eu nem existia fora da minha mãe e já fazia suspense e procrastinava... rs

Todo mundo tem uma concepção de amor. Mas acho que é uma daquelas palavras que descrevem coisas indescritíveis. Só pra nomear... porque existem tantos amores...

Beijos, lindinha.

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