Ela é apenas um tiro no escuro que gosta de ecoar um nome escolhido para que a identifiquem como Paula.
Esconde-se entre armaduras invisíveis uma tímida de teor reversível. De donzela só a voz.
Pela cidade mora como ruído agúdo que às vezes apresenta-se meio rouco, sente falta mesmo é do silêncio. Seus pés branquinhos cobertos por veias azuis aconchegam-se na grama crescente de quintais desconhecidos, afundam firme pela areia delicada de seus paraísos imaginários, às vezes sai pisando fundo pelo asfalto quente com seu All Star desamarrado. O chão pesa e ela sabe disso.
Pisoteante afoga seus pés em saltos para não sentir o piso de mármore lembrar que sua pele é tão fria quanto o chão. Mesmo assim, se precisar entregar seus sapatos para qualquer pessoa que precise deles, mal importa-se se ficarão sujos, se gelará os dedos ou se sentirá seus pés queimando como o chá borbulhante que toma quando sente medo do céu desabar sobre seus sonhos de garota carioca.
No fundo ela é boa e não para de tentar. De vestidos coloridos ou roupas mulambentas a notável palidez indolor aparenta querer saltar de seus poros.
Cabelos banhados em pleno breu sincero parecem confessar seu mistério. Singular expressão facial parece não conseguir parar de assumir seu grande amor pela humanidade.
Gosta de provocar gargalhadas após sondar o ambiente ao seu redor. Sente-se surda dentro dos seus medos e atenta aos medos alheios. Sem tinta no cabelo, sem rótulos e sem cortes, é apenas uma alma pulsando um corpo vivo. Garota no espelho que só quer sorrir ao notar o quão triste pode ser se deixar a vida atropelar suas bochechas de criança. É fácil penetrar o seu universo diferente dos demais, está sempre procurando uma forma de meditar vibrações boas para cada pessoa que conhece, até mesmo as quais ela não se identifica. Sua alma é faminta por intensidade, violenta e atormentada sabe-se lá o porquê. Tem em sí uma sede de mudar o mundo, mesmo sabendo que tal sede é maior do que sua armadura é capaz. Mergulha em livros, nos problemas de cada coração ao seu redor, assim ela consegue voltar sem nostalgia a sua infância tão cheia de fantasias peculiares. Mistura-se entre gargalhadas, lembranças, dias, discos e lágrimas. Com uma pinta notável no rosto, vermelhidão vibrante nos lábios e olhos mais escuros que sua hipocrisia humana lamentável, dança por suas vestes. Pouco se importa em não ser perfeita. O que verdadeiramente importa é que sempre está em constante metamorfose ardente. Dessas que vão rasgando sua carne para mostrar o quão barulhentamente colorido é o espírito que tem dentro de sí. Isso sim está em crescente evolução nesses anos viventes.
Nossa, olha lá! ela não é mais a mesma, parece mulher. Nossa, que adulta interessante está se tornando. Tão certa das suas vontades... mas não se iluda, ela continua sendo a mesma garotinha querendo transformar tristeza em poesia.
Acho que agora posso deitar no chão, já não tenho mais medo dele.
Depois de encostar minhas costas de bailarina que não dança e esmagar cada lágrima doente, andarei com asas de cartolina que nada podem fazer a não ser me deixar absorta nos meus próprios devaneios que nada querem fugir.
3 comentários:
Amei seriamente esse layout novo. Comofas pra ter um lindo assim?? haha!
Como sempre você conseguiu me cativar com suas palavras. Cada uma de suas frases perfurando minha mente com significados diferentes. Eu quase posso ouvir sua voz sussurrando-as. Esse texto é a definição de você mais completa que eu posso imaginar, mesmo sabendo que, parecida comigo como você é, sua complexidade e profundidade nunca poderá ser totalmente abrangida em palavras.
Amo você, Paulinha.
Nunca se esqueça disso. ;)
Muito legal, menina. Bem sei que amar a humanidade requer atitudes difíceis [ainda que simples] e raras de se ver. Espero que continue assim, e ainda evolua! [Pois sei que por melhor nos desempenhamos, mais temos ainda o que desenvolver em nós].
Que DEUS seja contigo!
:)
Você consegue me surpreender a cada novo texto, a cada novo dia, Srta. dos detalhes! :*
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