quarta-feira, 5 de maio de 2010

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"O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela." (Fernando Pessoa)

Sempre que um livro termina sinto como uma despedida quase que injusta a uma história que talvez nunca mais continue. Poderia me dedicar escrevendo continuações, mas de fato continuaria sabendo que não foi assim que os personagens seguiram. Todos os personagens morrem. Não importa o final, eles sempre morrem. Em muitas das histórias você nunca mais pode saber sobre os acontecimentos daquelas vidas.
Sabe quando você acaba de ver um filme com final cretinamente subjetivo e sente vontade de nunca mais ver outro?
De fato nunca foi o pior final para mim. Os piores finais são aqueles que mostram um belo retrato e terminam com letrinhas brancas na tela tão escura quanto a minha tristeza de não poder continuar participando em secreto de todas aquelas mentes. Os nomes dos personagens apagam em rolagem sendo relacionados aos nomes dos atores. É por isso que eu me apaixono por diretores e escritores, porque são de fato o útero quentinho e libertino de cada personagem que acaba fazendo parte de nós mesmos.
Isso me fez tentar em pensar no quanto Cristo deve sentir-se triste ao ser limitado por nós a participar das nossas escolhas, detalhes, gargalhadas, lágrimas e momentos particularmente importantes. De olhos sublimes vendo nossas histórias do começo ao fim, coloca-se a esperar que sintamos sua falta. Somos tão pequenos que conseguimos limitar o criador das nossas próprias almas com burras tentativas de imaginar que sabemos alguma coisa sobre o amanhã que ele já viu muito antes de sonharmos em existir. É uma pena que muitas vezes o abandonemos e só comecemos a perceber que Ele sempre esteve a nos observar em sofrimento quando tudo desaba entre as entranhas dos nossos pensamentos egoístas e resolvemos voltar para o seu cuidado paternal. O mais bonito é que quando ele nos recebe novamente dos nossos abandonos ele não nos aponta o dedo humano. Ele nos derrama o seu coração em um sorriso e nos acaricia com suas mãos poderosamente perfuradas por nossos pecados. Talvez ele esteja implorando até hoje para que você o dê um "Oi, Cristo!".
Sempre pensei dentro da minha ingratidão humanamente decadente que nascer era um dos milagres mais covardes que pode-se existir. Acorda-se de um alarde obrigatório enquanto os pulmões gritam por ar e quando menos se espera você subitamente É. O que eu não sabia era que não era só uma condenação para sofrer, trabalhar desesperadamente para pagar contas e nunca livrar-se carnalmente de uma alma atormentadamente pensante em um corpo pulsantemente frágil e cruel, sem a morte. Sorte a nossa que estamos de passagem por essa gaiola infeliz. Porém isso não anula a responsabilidade de ajudarmos nas melhoras do mundo. Não existe possibilidade em imaginar-se não existindo, porque de fato fomos criados para sermos eternos. É exatamente por isso que a morte nos passa uma dor bruta, porque de fato não fomos criados para passarmos por ela.
Quando alguém nos dá um presente, nós não nos perguntamos o que precisamos fazer para aceita-lo. Basta receber. O valor desse presente está no sangue de um Soberano entregue por amor, oferecendo-o gratuitamente que escolha a eternidade.
Continue sua história.

1 comentários:

Gabi... disse...

estava sentindo falta de seus textos, um tempão q não passava por aqui :D
sério, teus textos me fazem muito bem! Lindo!
bjs

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