Minha pele arrepia-se por um frio mudo, agudo e latente como os ponteiros dos meu dias fortes. Sinto meus pulmões pesados, cheios d'água. Dedilho a poeira surda, ouvindo com leveza o cansaço da ferida provido pela ausência de paz. Meu rosto por um instante gela como louça antiga. A coragem do implícito parece despejar a degustação de um momento solto, voraz, aflito, tristonho e fértil . Contorço-me, deslizo, entro e finalmente me atiro bem no meio do êxtase da essência, lá onde eu posso ser como um tiro no escuro, uma ondulação no mar do que é deserto. Oscilando entre paciência, lágrimas em tormenta e sede de vida, desfio a ponta de um fardo leve e sinto que o meu pranto nasce como fúria indolente, movido como uma crise epiléptica, invadindo o que eu chamo de universo particular. Estremecida, nauseativa, sonolenta e jovial. Pensamentos agressivos e torturados passeiam por mim, mas aos poucos vão virarando pó e eu adormeço embalada pelos pensamentos do dia que passou. Algo de transparente e demasiado toca minhas pálpebras, posso sentir a ponta do travesseiro umidescer. Salgando o que mais ninguém sente. Algo de doce me mancha os surtos e me faz atravessar minhas dores com sabedoria e calma. Parece que meu corpo começa a enviar lembranças num sopro alegre de um tempo bom, onde eu ainda não sabia o que era ter que crescer. A nostalgia em cor de sépia começa a tornar-se lenta e próxima. Como se num grito claro e sincero eu ninasse os meus sonhos e me prometesse a paz que esse mundo não pode me entregar. Um cansaço empoeirado me abala a alma e o espírito sussurra paz. Lá onde eu me atiro e me espanto nos últimos segundos antes do sono me levar para longe, uma força superior me beija os olhos entendendo-me e sarando meus ferimentos profundos, porque sabe que estou limpa entre as frestas da minha essência livre e presa por vontade.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
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3 comentários:
Como se extirpasse um tumor, esse texto saiu. O mais atormentado e atormentante.
Adoro textos trabalhados com jogos de idéias e palavras, ainda que sua compreensão não se faça tão simples e, em certos casos, necessite de uma releitura.
Mas nem só de significados vive um texto e é preciso dar aos olhos o direito de apreciar também a beleza do seu corpo, não só de sua alma.
E esse aqui tem os dois, menina ...
o melhor de tudo, paulinha, é a sua essência forte e implacável.
beijo
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