segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Entrelinhas



"Não é porque eu sujei a roupa bem agora que eu já estava saindo
Nem mesmo por que eu peguei o maior trânsito e acabei perdendo o cinema
Não é por que não acho o papel onde anotei o telefone que estou precisando
Nem mesmo o dedo que eu cortei abrindo a lata e ainda continua sangrando
Não é por que fui mal na prova de geometria e periga d'eu repetir de ano
Nem mesmo o meu carro que parou de madrugada só por falta de gasolina
Não é por que tá muito frio, não é por que tá muito calor
(...)
Se a fé remove até montanhas, o desejo é o que torna o irreal possível
Não é por isso que eu não possa estar feliz, sorrindo e cantando. "

(Nando Reis - O mundo ficaria completo com você)





Marcar sempre foi o seu principal objetivo na vida. Sempre levou um lema embrulhado nas suas artérias. Paula percorria as esquinas de cada rosto com vontade de rabiscar uma lembrança ao seu teor. Todo o delinear de existência a encantava. Existia um prazer secreto em observar milhares de pessoas tão diferentes todos os dias. Parece que ela gosta de tentar adivinhar as histórias por trás daqueles semblantes corriqueiros. Imagina seus nomes, lembranças, olhares sobre a vida, pratos favoritos, cor das cortinas do quarto, datas de aniversário, prazeres ocultos, últimas doenças, gosto musical, pensamentos sobre o que estão observando, dentre mais um ninho rico de detalhes e informações sobre rostos que ela nunca nem sonhou em ver. Essa tal mania de querer fazer parte, sempre foi vertiginosamente insistente e até mesmo corrosiva. Sua timidez sempre demonstrou-se como uma grande pintura negra sobre a tela alva, capaz de paralisar instantes entre seus pensamentos mais correntes. Ela parecia captar uma visão sobre o mundo que mais ninguém poderia ter. Num rapto intuitivo aprendeu um jeito de mudar vidas sem precisar ser notada com uma arte peculiar que mais parece o seu meio de sobreviver dentro de si mesma: Escrevendo.
Paula irá revelar agora mesmo uma das sua secretas manias.
A escrita fazia Paula molhar os dedos dentro da sua alma irreverente, absorver cada palavra solta e presa aos seus devaneios. Pulava em abismos de sensações inexprimíveis e deitava sobre um campo de margaridas com a calmaria do vento. Com tudo o que nela havia de silencioso e inefável, sentiu que poderia mudar rumos por alterar rotinas em cortes sucessivos de planos conceituais. Como quase todas as escolhas nos oferecem cinqüenta por cento de chance de dar certo, Paula arriscava a mutável experiência do cotidiano em provocar risadas e reflexões sublinhadas em semblantes aleatórios por troco de nada além do seu prazer de tentar mudar histórias. Paula escreve em papeis por toda parte, deixa em mesas de shoppings, janelas de ônibus, cadeiras de hospitais, porta-copos de cinema, caixas postais, carrinhos de supermercado e até mesmo em lixos, mensagens para quem ler, ler por conta própria e auto-risco. O teor de cada uma dessas folhas está na originalidade do recente. Divulga pensamentos íntimos a respeito da vida, e implora para que as pessoas vivam mais, vivam melhor.
Quem lê pensa: Essa garota certamente deve ser perturbada, no mínimo carente.
Mas na verdade, há quem diga que ela é uma grande sonhadora. Sonha em abrir mentes, quebrar cadeias e confortar corações de todos os tipos e origens. Quem sabe até um dia consiga ser uma grande psicóloga. Tá, nem precisa ser grande. Mas se for uma psicóloga capaz de melhorar uma única vida, já terá sido o suficiente para que leve dentro do seu peito um grande afago interno. Paula ama a mente humana como quem é capaz de dedicar toda a sua vida a entendê-la, mesmo sabendo que jamais seria capaz de decifrar tantos sentimentos particulares e cargas genéticas.
Paula fechou a porta do seu quarto, por um momento resolveu mudar a própria vida.
Às vezes pega atalhos, toma banhos frios, mergulha, come outros pratos só para saber como teria sido.
Se ela pudesse dar um só conselho para cada pessoa que conhece seria:
Ame as entrelinhas, porque são delas que se sente falta, porque, no fundo, são elas que nos fazem apaixonar pela vida, que nos fascinam sem que tenhamos consciência disso.
Entrelinhas estas que baseiam-se em apenas ser uma caricatura inesperada para uma criança desconhecida, um sorriso a um mendigo, uma flor a uma velhinha cansada, um chocolate no bolso de uma senhora irritada, um assunto diferente no elevador, um elogio espontâneo, um abraço verdadeiro, um bom dia cheio de impacto expressando a real vontade de que a pessoa tenha um dia coberto por momentos amáveis.
As Entrelinhas podem mudar destinos. O cafézinho do taxista, a manchinha de pasta de dente na blusa, o corte novo de cabelo, a coleira apertada do cãozinho, a mosca no vidro do carro, o relógio parado da cozinha e uma palavra que seja, podem salvar vidas e alterar uma ordem mundial.

Quando Paula sente que faz bem para alguém, não importa o que ocorra. Ela sempre está em paz dentro de si mesma. Nem a maior tempestade pode fazer com que seus sonhos escorram entre os dedos. Ela tem força, dedicação e o principal: O amor.































3 comentários:

Marcos Vichi disse...

Olá Paula!

Felizes são os que conseguem perceber e compreender as entrelinhas da vida!

Gostei muito do seu blog! Parabéns!!

Beijos,

Marcos Vichi
http://compartilhandopalavras.blogspot.com/

Anônimo disse...

Tenho o costume de bater sempre na mesma tecla:
- Paula, você me surpreende a cada página!
Não seria diferente hoje, não é mesmo?! Contigo aprendi a dar valor às entrelinhas. Dar valor ao que é pequeno aos olhos e, ao mesmo passo, grande ao coração. Just keep doing your best, girl! :D

Anônimo disse...

Denise Andrade Machado

Não sei se lembra de mim, te dei aula no fazem-se cinco anos, no Fundamental.
Sempre te vi destacar na sala com o seu jeitinho de observadora nata!! quietinha, tímida, muitas vezes distante mas de grande capacidade pela dimensão da intelectualidade para uma idade tão curta. No intervalo notava a sua aparente solidão, mas parece que entendi. Você estava com você mesma no seu caderninho. O ambiente não é favorecedor para contato íntimo rsrsrssrrsrsrs, todavia sempre observei a maturidade que você apresentava em suas provas de um modo que jamais havia notado em aluno nenhum da sua faixa.
Quando encontrei no seu orkut por via da comunidade "Escritores de gaveta" a página do blog, vim faminta conhecer a nova escritora que chegaria aqui no mundo com o tempo.
Estou surpresa com a riqueza dos seus textos e com a profundidade dos seus pensamentos, irei te seguir por aqui. Não posso mais perder nenhum textinho rsrsrsrsrrs. Paulinha, Pensa em fazer letras?!!
Como você anda? tudo bem na escola, em casa?
Fico muito orgulhosa de poder ter sido a sua professora, com muito carinho.


Siga sempre sorrindo!!!!!!!!!
1000 beijos

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