
Sempre guardei datas como quem guarda jóias valiosas. Não me perguntem o motivo, não saberia responder. Mas arrisco em comentar que deve ser para não me perder na minha própria natureza amante das memórias detalhadas. Quando começo a pensar nos fatos ao meu redor, certos lampejos dos mais derivados sentimentos misturam-se ao ponto de me fazerem perder o silêncio. Quando paro absorta em uma tempestade de desmotivações, observo o que é molhado por ela. Ali vejo uma margaridinha crescendo no cantinho do asfalto, um gatinho solitário olhando para um homem como se o reconhece-se, a aeromoça cansada sentada em um banquinho colorido da cafeteria, com um olhar nervoso por respingos do toldo estarem caindo sobre o seu ombro direito, janelas de todos os tipos de vida passando uma energia singular, um adolescente preocupado com o cabelo, o mendigo sorrir enquanto o cachorro malhado deita em seu colo, uma cega com uma rosa branca de cetim no cabelo amarelado como o seu labrador, uma mãe apertando os passos por causa do bebê do carrinho azul marinho, a hipponga ruiva do bairro procurando a chave em sua grande bolsa verde cheia de chaveiros grandes e chamativos, crianças com vestidinhos adultos, carros coloridos correndo rápido para os seus destinos. Paro, reflito, sonho e confirmo as motivações espontâneas que tomei num grito. Consigo encontrar cor até nas mais cinzas das metrópoles agora que o dia chama-se liberdade. Como é gostoso olhar a vida ao redor e identificar-se com os mais derivados tipos de ações urbanas. Muitas vezes abafados pelo sentimento engasgado de sentir a dor do próprio umbigo, não sentimos facilidade de fixar os olhos nos fatos e lembranças sobre as emoções que nos fazem bem para diminuir o caos interno. Nenhuma porta é fechada enquanto não houver uma janela aberta. Devo dizer que pela primeira vez pude ter certeza dessa frase. Aprendi que não adianta procurar a janela apoiando os braços sobre a mesa com olhos marejados. É preciso explorar o ambiente com os olhos famintos por intensidade. Posso sentir o manto verde da esperança e a mordida vermelha da motivação entrarem pelas cortinas abertas do meu quarto de garota, com uma única diferença : A própria diferença. Não por uma questão de 'profundidade filosófica', mas a singularidade desse momento é totalmente indescritível. Mas esperem os dias virem enquanto as noites vão embora, talvez possam me ver 'Descrevendo o indescritível'.
A volta do prazer de não ter que buscar esconderijo ao lembrar do tempo que sorria melhor pelo simples fato de já estar sorrindo o sorriso mais aberto de todos os verões cariocas:
A realidade futura será melhor do que todos os meus sonhos e lembranças no que depender da minha gritante e inefável vontade de viver livre e presa por vontade.
Agora o meu céu anuncia um azul convidativo, o qual a tempestade já lavou enquanto pintava um arco-íris vivo para me fazer lembrar de que a vida é surpreendente quase sempre.
Os olhos mudavam de cor ao suspirar. A felicidade era explícita, os momentos não tinham fim. Ela se sentia frente à frente aos seus sonhos mais impossíveis. O tempo parecia pausar junto com a sua respiração. Por trás dos olhos castanhos existiam sentimentos que devoravam sua capacidade de expressão. Seus mistérios se dissolviam na escuridão dos seus maiores medos. Ele sabia como a manter feliz. Já se fazia muito tempo que não surgia um sorriso confiável em seus lábios. A suave coloração pela face não a permitia um esconderijo. E quer saber? Ela não queria mais se esconder. Ela queria que o tempo não existisse. Ela só quer viver sem pausas agora que O conhece... Quando o sol penetrava na sua pele pálida, conseguia sentir um instante de volúpia. Ela tinha outro dia dentro da sua eternidade interna. Andava livre, leve e solta. Sorria sem mais nem menos. Ela amava viver. Ela ama.
Agora ela tem um motivo. E que motivo.
8 comentários:
Escreva um livro já,garota! compro a seguir.
Virarei seu leitor, adorei o blog. Escreve como gente grande. Você deve ter lido muito Poe, Lispector,Frankarmüvar para chegar a esse nível de escrita. Meus parabéns, sucesso aí com o blog e com a vida!
"Calendários sempre tiveram o poder de me assustar." adorei isso!
belissimo blog,cara!
vim só pra comentar,mas tbm vou te seguir blz? beiijs ;*
O tempo é algo que assusta e os calendários servem para nos lembrar que ele corre e não espera por nós, nem volta atrás.
Adorei e estou seguindo!
Bjs
Devo confessar que não sei fazer comentários. É.
Acho que vou sempre aparecer por aqui. Ler seus pensamentos. Me identificar.
Digna de adimiração.
Paula, ler VOCÊ é algo intenso demais. A cada nova palavra, nova frase, você imprime suas marquinhas nas vidas alheias. Imensurável é o desejo de poder ler todo e qualquer capítulo de sua história. Não me sentiria alguém completo se seguisse meu caminho sem espiar seus passos... Estarei sempre por perto, mesmo que distante. 123 :*
você escreve muito menina!
você vai longe, pode apostar
Luciana Helena
Que bom que está feliz...
TC.
DEMAIS>>>>>>>calendários me assustam em todos os aspectos, TODOS, mas sei ao mesmo tempo que são belos organizadores do TEMPO, já que este por si só, nem sequer existe. Então , foi fatiado em dias , semanas, meses, anos, etc.....e de forma inteligente e complexa, e seus " furos" são sempre passáveis e percebidos, reorganizados , de algum modo.Eles não apenas me assustam, mas me enlouquecem..... Gosto do destaque que dá à palavra liberdade. Liberdade p. se identificar com coisas urbanas; perceber cores em tudo...; ser tão livre a ponto de querer ser presa, pque para ser livre é preciso muta autonomia , muita responsabilidade de se prender nas consequências de seus próprios atos, muito mais fácil , não o ser. Como é difícil ser livre. A intensidade do azul lá no céu, trazendo de volta o bem estar, entrando nele, sentindo-se novamente viva, num arco-íris que já estava sendo preparado no inconsciente da escuridão que enlouquece, não a que conforta; no branco que desespera e não tranquiliza; no cinza que entedia e não traz a sensação agradável e enigmática de uma cor indefinida em sua mistura clássica, bela, luxuosa....poder sentir todas as cores e suas pitangas, todas as músicas, todos os sons e formas, espumas, borbulhas, viver, estarrrr de verdade , sem medo paralisante e comorbidade. O tempo, tempo que vai, não pára; não volta....
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