segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Hoje no calendário futuro

Calendários sempre tiveram o poder de me assustar. Detesto marcar os dias com caneta, sinto-me contando a vida até o dia que uma janelinha ficar sem nenhum vestígio de cor, levando mais todos os pequenos quadrados numerados com uma marca de luto particular. Não arranco as páginas, ainda faço questão de olhar para elas forçando a memória para lembrar de cada dia.
Sempre guardei datas como quem guarda jóias valiosas. Não me perguntem o motivo, não saberia responder. Mas arrisco em comentar que deve ser para não me perder na minha própria natureza amante das memórias detalhadas. Quando começo a pensar nos fatos ao meu redor, certos lampejos dos mais derivados sentimentos misturam-se ao ponto de me fazerem perder o silêncio. Quando paro absorta em uma tempestade de desmotivações, observo o que é molhado por ela. Ali vejo uma margaridinha crescendo no cantinho do asfalto, um gatinho solitário olhando para um homem como se o reconhece-se, a aeromoça cansada sentada em um banquinho colorido da cafeteria, com um olhar nervoso por respingos do toldo estarem caindo sobre o seu ombro direito, janelas de todos os tipos de vida passando uma energia singular, um adolescente preocupado com o cabelo, o mendigo sorrir enquanto o cachorro malhado deita em seu colo, uma cega com uma rosa branca de cetim no cabelo amarelado como o seu labrador, uma mãe apertando os passos por causa do bebê do carrinho azul marinho, a hipponga ruiva do bairro procurando a chave em sua grande bolsa verde cheia de chaveiros grandes e chamativos, crianças com vestidinhos adultos, carros coloridos correndo rápido para os seus destinos. Paro, reflito, sonho e confirmo as motivações espontâneas que tomei num grito. Consigo encontrar cor até nas mais cinzas das metrópoles agora que o dia chama-se liberdade. Como é gostoso olhar a vida ao redor e identificar-se com os mais derivados tipos de ações urbanas. Muitas vezes abafados pelo sentimento engasgado de sentir a dor do próprio umbigo, não sentimos facilidade de fixar os olhos nos fatos e lembranças sobre as emoções que nos fazem bem para diminuir o caos interno. Nenhuma porta é fechada enquanto não houver uma janela aberta. Devo dizer que pela primeira vez pude ter certeza dessa frase. Aprendi que não adianta procurar a janela apoiando os braços sobre a mesa com olhos marejados. É preciso explorar o ambiente com os olhos famintos por intensidade. Posso sentir o manto verde da esperança e a mordida vermelha da motivação entrarem pelas cortinas abertas do meu quarto de garota, com uma única diferença : A própria diferença. Não por uma questão de 'profundidade filosófica', mas a singularidade desse momento é totalmente indescritível. Mas esperem os dias virem enquanto as noites vão embora, talvez possam me ver 'Descrevendo o indescritível'.
A volta do prazer de não ter que buscar esconderijo ao lembrar do tempo que sorria melhor pelo simples fato de já estar sorrindo o sorriso mais aberto de todos os verões cariocas:
A realidade futura será melhor do que todos os meus sonhos e lembranças no que depender da minha gritante e inefável vontade de viver livre e presa por vontade.
Agora o meu céu anuncia um azul convidativo, o qual a tempestade já lavou enquanto pintava um arco-íris vivo para me fazer lembrar de que a vida é surpreendente quase sempre.






Os olhos mudavam de cor ao suspirar. A felicidade era explícita, os momentos não tinham fim. Ela se sentia frente à frente aos seus sonhos mais impossíveis. O tempo parecia pausar junto com a sua respiração. Por trás dos olhos castanhos existiam sentimentos que devoravam sua capacidade de expressão. Seus mistérios se dissolviam na escuridão dos seus maiores medos. Ele sabia como a manter feliz. Já se fazia muito tempo que não surgia um sorriso confiável em seus lábios. A suave coloração pela face não a permitia um esconderijo. E quer saber? Ela não queria mais se esconder. Ela queria que o tempo não existisse. Ela só quer viver sem pausas agora que O conhece... Quando o sol penetrava na sua pele pálida, conseguia sentir um instante de volúpia. Ela tinha outro dia dentro da sua eternidade interna. Andava livre, leve e solta. Sorria sem mais nem menos. Ela amava viver. Ela ama.
Agora ela tem um motivo. E que motivo.

8 comentários:

Anônimo disse...

Escreva um livro já,garota! compro a seguir.
Virarei seu leitor, adorei o blog. Escreve como gente grande. Você deve ter lido muito Poe, Lispector,Frankarmüvar para chegar a esse nível de escrita. Meus parabéns, sucesso aí com o blog e com a vida!

Unknown disse...

"Calendários sempre tiveram o poder de me assustar." adorei isso!
belissimo blog,cara!
vim só pra comentar,mas tbm vou te seguir blz? beiijs ;*

Mônica disse...

O tempo é algo que assusta e os calendários servem para nos lembrar que ele corre e não espera por nós, nem volta atrás.
Adorei e estou seguindo!
Bjs

Anônimo disse...

Devo confessar que não sei fazer comentários. É.


Acho que vou sempre aparecer por aqui. Ler seus pensamentos. Me identificar.

Digna de adimiração.

Anônimo disse...

Paula, ler VOCÊ é algo intenso demais. A cada nova palavra, nova frase, você imprime suas marquinhas nas vidas alheias. Imensurável é o desejo de poder ler todo e qualquer capítulo de sua história. Não me sentiria alguém completo se seguisse meu caminho sem espiar seus passos... Estarei sempre por perto, mesmo que distante. 123 :*

Anônimo disse...

você escreve muito menina!
você vai longe, pode apostar
Luciana Helena

Anônimo disse...

Que bom que está feliz...
TC.

Cláudia Cristina disse...

DEMAIS>>>>>>>calendários me assustam em todos os aspectos, TODOS, mas sei ao mesmo tempo que são belos organizadores do TEMPO, já que este por si só, nem sequer existe. Então , foi fatiado em dias , semanas, meses, anos, etc.....e de forma inteligente e complexa, e seus " furos" são sempre passáveis e percebidos, reorganizados , de algum modo.Eles não apenas me assustam, mas me enlouquecem..... Gosto do destaque que dá à palavra liberdade. Liberdade p. se identificar com coisas urbanas; perceber cores em tudo...; ser tão livre a ponto de querer ser presa, pque para ser livre é preciso muta autonomia , muita responsabilidade de se prender nas consequências de seus próprios atos, muito mais fácil , não o ser. Como é difícil ser livre. A intensidade do azul lá no céu, trazendo de volta o bem estar, entrando nele, sentindo-se novamente viva, num arco-íris que já estava sendo preparado no inconsciente da escuridão que enlouquece, não a que conforta; no branco que desespera e não tranquiliza; no cinza que entedia e não traz a sensação agradável e enigmática de uma cor indefinida em sua mistura clássica, bela, luxuosa....poder sentir todas as cores e suas pitangas, todas as músicas, todos os sons e formas, espumas, borbulhas, viver, estarrrr de verdade , sem medo paralisante e comorbidade. O tempo, tempo que vai, não pára; não volta....

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