segunda-feira, 15 de março de 2010

Transformando o caos em cosmos.

Interpretar-se exige o desvestimento das falsas roupagens. Portas abertas para distanciar-se da realidade cotidiana externa, só por esse momento. Manchar a maquiagem, lançar a luz sobre a covardia, desqualificar o poder do esconderijo social e por fim pisar em sólidos empíricos, coligir os mantos em insana vontade de perceber que no centro dos pensamentos existem poderosas pulsões em ebulição inconsciente.
Entre raras, súbitas e violentas explosões das nossas constantes metamorfóses encontramos contradições pertubadoras, capazes de nos levar ao encontro audacioso de nós mesmos. As quais são igualmente necessárias para deslumbrar o intuitivo e projetar o futuro. A força do futuro está no momento presente. O esboço do futuro está no vestígio do passado.
O intuitivo apreende as coisas no seu conjunto e aquilo que atrai é o clima onde elas movem para seus destinos ainda incertos e obscuros. Entre o pensamento e o sentimento ocorre uma incompatibilidade semelhante.
Todo ser tende a realizar o que existe dentro de sua própria natureza pulsante. Como uma tendência instintiva de vivenciar plenamente potencialidades inatas ainda que em germe. Para evoluir, completar-se de algum modo afável.

Coloquei-me em questão por um momento e entre letras, abrirei as cortinas sem representar, sem nariz de palhaço, máscara de bailarina grega ou maquiagem de adolescente fora dos padrões de estética. Penetre a raiz dos meus pensamentos como quiser.

Tenho no peito o peso dos sentimentos fortes e genuínos pelo bem da humanidade o que não significa que não possa ferir ou destruir sem intenção malévola como uma força da natureza. Um vulcão, como descreve Marie-Louise von Franz, onde compara a expressão de afetos do tipo pensamento introvertido aos jatos de lava de um vulcão que não tem culpa de derramar caldos borbulhantes em uma terra frágil.
Apresento-me retraída, calma e silenciosa. Pouco abordável, difícil de compreender porque, digirida por forças brutalmente subjetivas, minhas intenções permanecem ocultas. Gerando enigmas que só podem ser explorados quando lanço luz pelos meus recantos e permito uma aproximação. Quando vista de perto, abro uma personalidade certamente acolhedora, algumas vezes cômica e repleta de desejos por sorrisos provocados por mim. Sou amplamente sensível às impressões provenientes dos objetos, das marcas, das entrelinhas. Fixo os olhos em todos os detalhes como se possuísse internamente uma "placa fotográfica". Gosto de colecionar nostalgias dentro das gavetas. Não tenho nenhum raciocínio diretamente ligado aos números. Letras, filosofia e arte na sua totalidade, conectam-se ao que mais me identifico. Sou atrapalhada, muitas vezes desastrada mas de alguma maneira, tenho suavidade nas coisas que seguro e que guardo. Sou sensível à atmosfera, os ambientes podem mudar rapidamente meu humor. Gosto de seguir pistas, analisar e não tenho medo de ser analisada. Porque de alguma maneira, jamais conseguiriam chegar em um ponto final ao me definir. De alguma maneira, gosto que prestem atenção aos meus sinais. Não existe ponto final quando trata-se da vida de um ser humano. Ninguém nunca vai conseguir SER algo, talvez chegar perto disso, mas de modo abstrato e singular. Gosto de surpreender.
Pareço individualista de primeiro encontro, mas daria a vida por alguém. Quando quebro meu orgulho, sou maleável e fácil de desvendar, mas para quebra-lo, preciso de segurança numerosamente exuberante. Alastro-me em jogos do espírito, gosto mesmo é de me questionar. Criticar cada expressão de descaso com o mundo que brota no meu coração contraditório e muitas vezes hipócrita com a minha amada referência cristã. Devemos ter como objetivo um constante desejo de nos colocarmos a salvo das engrenagens desse sistema opressivo.
Antes de dormir oro por pessoas que nem sei o nome, espero os sonhos chegarem.
Trato meus sonhos como auto descrição da vida psíquica. Encaro a íris dos olhos da minha própria psique sem medo do que posso ver. Já tive sonhos reativos, intuitivos, "grandes e pequenos" (definição de Jung). Irradio de felicidade quando acordo e percebo a delícia de respirar para um novo dia. Pela certeza de ter um anjo tutelar entre meus anelos.
Desdobro-me em profundidade secreta e intensa, mas deleito-me em destronada simplicidade. Ressonho a vontade de ser alguém menos seletiva, por mais que não selecione tanto assim.
Sonho com um mundo sem olhares diferenciados, onde pessoas percebem nos olhos opostos aos seus uma maneira de pintar o céu na terra. Nós não fazemos ideia de como pequenas atitudes singelas podem transformar dias, construir sorrisos e partilhar sofrimentos ávidos. No âmago de nós mesmos abandonamos as relações como quem aprendeu a aproveitar os dons, nessa constante falsa ideologia de troca de favores que dizem que é natural ter-se. Espero de verdade gritar para o mundo que nós não devemos fazer coisas com intuito de receber. Essas nossas armadilhas hábeis e lamentáveis só nos tornam iscas da nossa própria insensatez capitalista e plástica, capaz de deslumbrar um mundo de constante queda espiritual. A mente humana está aberta ao reconhecimento fascinante da nossa conexão tão evidente entre nós mesmos.
Transforme o caos em cosmos, desvende-se.

sábado, 13 de março de 2010

Chega

Cansei tanto, mas tanto.
A sorte é que eu O tenho e Ele sabe o que passa dentro do meu coração.
Se Ele sabe, eu não preciso mais me preocupar. Mesmo assim, dentro de mim corre um grito explosivo que simplesmente precisa sair da boca para tudo. Eu cansei e não existe coisa mais cruel do que não respeitar um sofrimento, do que apontar, do que dizer o que não tem ideia, do que agitar um mar que está calmo. De qualquer maneira, volto a dizer: Jesus conhece as minhas lágrimas, as minhas ações e o meu coração. Espero trazer boas palavras outro dia, hoje simplesmente não dá. Esse é o preço que se paga por se esforçar, por tentar ser uma pessoa melhor. É, mas tudo bem. A melhor coisa que se tem é estar em paz com as próprias atitudes. A verdade é que não dá mais para aturar o peso das palavras desnecessárias. Definitivamente não estou bem. Por hoje basta.

Vertigem


Talvez eu não tenha tido a infância ideal, talvez eu nunca tenha tido uma adolescência voraz e legal de se lembrar. Talvez eu nunca tenha vivido as fases que eu precisava ter vivenciado intensamente. Sempre fui obrigada internamente a crescer muito rápido, não é que eu tenha controlado uma casa, ou tenha tido grandes responsabilidades, não mesmo. Longe disso. No fundo eu sempre me senti adulta. Isso não anula alguns comportamentos típicos de cada idade. A realidade é que sempre me senti diferente e escutei muito a grande maioria das pessoas ao meu redor perceberem o mesmo. Eu não sei até que ponto isso é bom, sei que cresci e continuo não vivendo as idades como elas deveriam ser vivenciadas e isso me preocupa.
Estou cansada de pintar meus quartos vazios. Estou cansada de não me sentir vivendo de verdade. Não é que eu não tenha calma, ou que precise de intermináveis doses de emoções baratas para me sentir bem. Simplesmente quero algo novo, quero uma vida nova. Eu ainda não sei os passos, mas sei que chegará cedo ou tarde.
É tão bom quando a gente sabe onde quer chegar. Eu não quero me arrepender do que eu não vivi apenas segundos antes do coração parar de bater. Eu preciso que isso aconteça em breve, sem espera. Isso não é nenhum convite para uma vida irresponsável, longe disso. É um convite íntimo para aproveitar os detalhes simples com maior atenção. Eu não quero manuais para existir, eu não quero receitas de bolo. Eu quero estar comigo, eu quero aproveitar o tempo que eu tenho perto de mim mesma. Quero rir o meu riso, quero ser fiel aos meus sentimentos. Quero poder driblar perigos e deitar na paz interna que só a gente sabe onde encontrar. Encontro essa paz em Cristo, muitas vezes no sorriso das pessoas que eu mais quero que jamais saiam do lar que construí para elas.
Hoje eu só quero querer. Eu quero afundar os pés na areia. Eu quero brincar na rede. Eu quero deitar com a claridade do sol fora do quarto. Eu quero tomar sorvete na praia. Eu quero contar estrelas do céu deitada na canga com alguém. Eu quero correr na grama. Eu quero dançar sem ninguém ver. Eu quero subir em montanhas altas. Eu quero jogar em um clima congelante, sentada no tapete com cobertores e lareira quentinha. Eu quero mergulhar no mar gelado. Eu quero fazer carinho na minha gatinha. Eu quero fazer um bebê gargalhar. Eu quero ler livros emocionantes. Eu quero sair sem rumo. Eu quero alugar filmes engraçados. Eu quero comer pipoca no cinema. Eu quero me sujar de tinta. Eu quero passar um dia inteiro descabelada. Eu quero ver uma noite transformar-se na explosão azul que o sol abre. Eu quero ter filhos. Eu quero fazer loucuras bobas. Eu quero chorar e sorrir com alguém ao meu lado. Eu quero ter amigos de verdade. Eu quero alegrar o coração Dele. Eu quero viajar. Eu quero escrever um livro. Eu quero conhecer pensamentos novos. Eu quero ralar meu joelho fazendo algo que nunca fiz. Eu quero subir em uma árvore para pensar. Eu quero ajudar alguém. Eu quero ouvir. Eu quero tomar coca-cola gelada. Eu quero cozinhar para alguém. Eu quero arrumar um cômodo prestes a receber uma visita gostosa. Eu quero ter paciência. Eu quero ser cada vez mais comovida pelas dores do mundo. Eu quero fotografar o que ninguém mais presta atenção. Eu quero pintar uma tela. Eu quero escolher rosas para mim mesma. Eu quero pintar as unhas de azul. Eu quero fazer planos. Eu quero sair para respirar a beleza do que está fora de mim. Eu quero sonhar acordada. Eu quero usar um vestido novo em uma festa. Eu quero andar descalça na grama. Eu quero usar um casaco quentinho. Eu quero respirar sem sentir essa água que cobre meus pulmões. Eu quero poder olhar as luzes da cidade de uma janela bem alta. Eu quero achar bichinhos nas núvens. Eu quero fazer telefonemas inesperados. Eu quero criar melodias diferentes. Eu quero escrever mais. Eu quero ver diversos sentidos bons na vida.
Eu quero nunca parar de querer a liberdade de ser livre até em prisões humanas.

terça-feira, 2 de março de 2010

A Escolha


Coroa de espinhos. Amor incontido. Cruz pesada. Cuspes. Tapas. Pregos. Torturas. Feridas. Insanidade.
Sangue. Lágrimas. Dor. Deboche. Tristeza. Barbaridades. Entrega. Perdão.
Houve luz, uma explosão no céu terreno. Um Big Bang em células humanas. A criação de uma nova terra iniciou-se por uma única vida. Um exemplo de novo Adão para a humanidade. "Adão" que foi feto, menino e homem. Deus que desceu para ajudar seus filhos. Ninguém precisou ir até Ele para implorar que nos desse uma chance. Ele desceu. Limitou-se aos passos humanos, ao tempo, as dores. Chorou nossas lágrimas, riu nossos risos, limpou nossas almas, curou nossas feridas, surpreendeu nossos dias, acalmou nossos corações, transformou nossas vidas, nos mostrou milagres incríveis, guiou nossos caminhos, mostrou que somos iguais e rendeu-se por amor. Jesus tinha o poder de sair daquela cruz a hora que ele tivesse vontade. Jesus escolheu o sacrifício.
Ele ressuscitou e ao mesmo tempo sempre existiu. Ele sabia do exato momento que você leria essas linhas, antes mesmo do ventre da tua mãe.
Faça o que quiser com essas informações, mas lembre que essa oportunidade chegou até você.
Talvez você nunca tenha falado com Ele.
Talvez você não acredite na divindade Dele.
Talvez você já tenha O zombado como tantos.
Talvez você já tenha O culpado pelos problemas da sua vida e do mundo.
Talvez você nunca tenha passado uma tarde com Ele.
Talvez você não saiba o quanto Ele gostaria de vê-lo chegar perto.
Definitivamente Ele não é apenas um arquivo dos livros de história por ter dividido o mundo em antes e depois. Assim como definitivamente não foi apenas um ser iluminado que passou lições de solidariedade.
Nosso descaso pelo seu Amor tem nos construído corações de aço, olhos cadavericamente insensíveis e bocas gargalhando a insanidade do prazer de sermos cada vez menos humanos. Estamos sempre insatisfeitos com o que conquistamos, sentindo fome e sede de ter o que as vitrines criam dentro das nossas entranhas frias. Deixe-o cuidar de você.
O mundo continuaria intacto sem você, pessoas certamente poderiam substituir a sua existência, mas Ele te escolheu. Ele o desenhou, Ele pensou no seu nome enquanto nos deixou derramar o Seu sangue com a nossa insensatez marcante. Não existe um só de nós que tenha sido perfeito. Não existe. Estamos em uma constante queda, cada vez mais no fundo de nós mesmos. Não penetramos mais nosso espírito, nossa alma basta para atender os chamados da carne. Parecemos porcos fazendo outros porcos de lama. Quantas vezes por dia nós cuspimos na face de Cristo? Quantas vezes por dia nós o colocamos uma coroa de espinhos?
Quantas vezes nós O fustigamos?
Milhares. O mais apaixonante é que não importa o que a gente faça, Ele nunca deixará de nos amar, nunca. O maior exemplo disso é a própria cruz. Nós nunca saberemos o peso daquela cruz, a dor física e espiritual que ele sentiu, ainda sim Ele pedia aos céus para que o Pai nos desse o perdão. Seu sangue é o perdão. Ainda que todos nos abandonem, Ele sempre vai estar esperando o primeiro "Oi, Deus." para celebrar as nossas vozes. Não existe boa ação que faça Deus te amar mais, nem má ação que faça Deus te amar menos. Isso não significa que Deus não se alegra quando você abraça alguém como se estivesse abraçando ao próprio Criador, nem que Ele não chore quando percebe você indo para a trilha da dor. Para passar a eternidade ao Seu lado, basta um Sim. Basta crer que Ele é o único que nos pode levar aos céus. Você definitivamente não precisa fazer esforço algum para ganha-la, é uma questão de fé.
Não existe nada mais lindo do que ser incondicionalmente amado pelo Criador do universo. Nenhuma palavra pode traduzir o prazer que eu sinto em saber que Ele não nos abandonou.
Não tem como agradecer o que Ele fez por nós, teriamos que dizer um "Obrigada" à cada batida dos nossos corações e mesmo assim não seria o suficiente. Porém, confesso que tenho sentido o prazer de alegrar o coração dele com detalhes. Muitas vezes estarei cometendo o que reprovo na humanidade durante toda a minha existência, o que eu mais quero é poder esboçar um pouco de Deus em cada relação que a vida me doar. É uma escolha.
Não importa o que digam sobre mim, nunca vai importar. Agora é hora de abraçar o mundo e agradecer por cada ser humano maravilhoso, que Ele tem colocado no meu caminho. Mas hoje, especificamente hoje, gostaria de agradecer pelos seres humanos que mais me machucaram, porque eles me fizeram aprender a apontar as minhas fraquezas bem no íntimo. E peço perdão a Deus e a cada um se não pude expressar o quão amável é ter Jesus. Espero que cada um possa sentir o meu perdão sobre as coisas que tenham feito, com arrependimento ou não de tais ações. Eu estou cansada dos nossos julgamentos, das nossas eternas hipocrisias e da velha mania de apontar. Chega, não dá mais tempo para isso. Faça uma escolha, ame.
Fale com Ele hoje
"Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele" (Apocalipse 3,19).