quarta-feira, 16 de junho de 2010

Contos de farpas

Cantava bem baixinho em notas altas enquanto o céu cobria seus presságios. O fel do coração derramava-se no lençol carmim. Tecia hinos dourados como colméia ao sol que tentava amorenar sua constante palidez. Quando abriam suas páginas, sentia-se como bailarina de caixinha de música. Feliz por estar ali, encantadora ou importuna. Com olhos fartos pelo lustre de cetim, ajustava-se em tropeços, e com o tremor de suas mãos moldava seus delírios em retratos feitos de teclas. O latejar de sua mente era isolado, mas ela sabia voar. O murmúrio desvanecia-se como névoa dissipada pelo vento. Perdia o tino mas não sucumbia ás forças de bambos chãos. Paula era poesia estranha, rima diferente, palavra que não vinha a mente, verso meio desalinhado, involuntária melodia que resolve fazer parte quando menos se espera. Quando a loucura alheia a puxava para a doença, ela dançava. Dançava longe dos seus pés. Não deixava que pudessem rasgar a carne que já estava em seus ossos branquinhos, muito menos que assoprassem suas cinzas enquanto as minúsculas células desfaziam-se. O asfalto gritava palavras de um mundo em crise, enquanto do céu caiam lágrimas. Para sorrir, esvoaçava asas de cartolina e fazia-se pluma. Mas o que confortava mesmo, era a luz que afundava o quarto entre as brechas da janela de madeira.

2 comentários:

Taw disse...

rima rica.

:P

luna disse...

tem vez que venho no seu blog só pra ouvir as músicas pra me inspirar. também me fazem voar alto. belíssimo playlist.

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