Interpretar-se exige o desvestimento das falsas roupagens. Portas abertas para distanciar-se da realidade cotidiana externa, só por esse momento. Manchar a maquiagem, lançar a luz sobre a covardia, desqualificar o poder do esconderijo social e por fim pisar em sólidos empíricos, coligir os mantos em insana vontade de perceber que no centro dos pensamentos existem poderosas pulsões em ebulição inconsciente.
Entre raras, súbitas e violentas explosões das nossas constantes metamorfóses encontramos contradições pertubadoras, capazes de nos levar ao encontro audacioso de nós mesmos. As quais são igualmente necessárias para deslumbrar o intuitivo e projetar o futuro. A força do futuro está no momento presente. O esboço do futuro está no vestígio do passado.
O intuitivo apreende as coisas no seu conjunto e aquilo que atrai é o clima onde elas movem para seus destinos ainda incertos e obscuros. Entre o pensamento e o sentimento ocorre uma incompatibilidade semelhante.
Todo ser tende a realizar o que existe dentro de sua própria natureza pulsante. Como uma tendência instintiva de vivenciar plenamente potencialidades inatas ainda que em germe. Para evoluir, completar-se de algum modo afável.
Coloquei-me em questão por um momento e entre letras, abrirei as cortinas sem representar, sem nariz de palhaço, máscara de bailarina grega ou maquiagem de adolescente fora dos padrões de estética. Penetre a raiz dos meus pensamentos como quiser.
Tenho no peito o peso dos sentimentos fortes e genuínos pelo bem da humanidade o que não significa que não possa ferir ou destruir sem intenção malévola como uma força da natureza. Um vulcão, como descreve Marie-Louise von Franz, onde compara a expressão de afetos do tipo pensamento introvertido aos jatos de lava de um vulcão que não tem culpa de derramar caldos borbulhantes em uma terra frágil.
Apresento-me retraída, calma e silenciosa. Pouco abordável, difícil de compreender porque, digirida por forças brutalmente subjetivas, minhas intenções permanecem ocultas. Gerando enigmas que só podem ser explorados quando lanço luz pelos meus recantos e permito uma aproximação. Quando vista de perto, abro uma personalidade certamente acolhedora, algumas vezes cômica e repleta de desejos por sorrisos provocados por mim. Sou amplamente sensível às impressões provenientes dos objetos, das marcas, das entrelinhas. Fixo os olhos em todos os detalhes como se possuísse internamente uma "placa fotográfica". Gosto de colecionar nostalgias dentro das gavetas. Não tenho nenhum raciocínio diretamente ligado aos números. Letras, filosofia e arte na sua totalidade, conectam-se ao que mais me identifico. Sou atrapalhada, muitas vezes desastrada mas de alguma maneira, tenho suavidade nas coisas que seguro e que guardo. Sou sensível à atmosfera, os ambientes podem mudar rapidamente meu humor. Gosto de seguir pistas, analisar e não tenho medo de ser analisada. Porque de alguma maneira, jamais conseguiriam chegar em um ponto final ao me definir. De alguma maneira, gosto que prestem atenção aos meus sinais. Não existe ponto final quando trata-se da vida de um ser humano. Ninguém nunca vai conseguir SER algo, talvez chegar perto disso, mas de modo abstrato e singular. Gosto de surpreender.
Pareço individualista de primeiro encontro, mas daria a vida por alguém. Quando quebro meu orgulho, sou maleável e fácil de desvendar, mas para quebra-lo, preciso de segurança numerosamente exuberante. Alastro-me em jogos do espírito, gosto mesmo é de me questionar. Criticar cada expressão de descaso com o mundo que brota no meu coração contraditório e muitas vezes hipócrita com a minha amada referência cristã. Devemos ter como objetivo um constante desejo de nos colocarmos a salvo das engrenagens desse sistema opressivo.
Antes de dormir oro por pessoas que nem sei o nome, espero os sonhos chegarem.
Trato meus sonhos como auto descrição da vida psíquica. Encaro a íris dos olhos da minha própria psique sem medo do que posso ver. Já tive sonhos reativos, intuitivos, "grandes e pequenos" (definição de Jung). Irradio de felicidade quando acordo e percebo a delícia de respirar para um novo dia. Pela certeza de ter um anjo tutelar entre meus anelos.
Desdobro-me em profundidade secreta e intensa, mas deleito-me em destronada simplicidade. Ressonho a vontade de ser alguém menos seletiva, por mais que não selecione tanto assim.
Sonho com um mundo sem olhares diferenciados, onde pessoas percebem nos olhos opostos aos seus uma maneira de pintar o céu na terra. Nós não fazemos ideia de como pequenas atitudes singelas podem transformar dias, construir sorrisos e partilhar sofrimentos ávidos. No âmago de nós mesmos abandonamos as relações como quem aprendeu a aproveitar os dons, nessa constante falsa ideologia de troca de favores que dizem que é natural ter-se. Espero de verdade gritar para o mundo que nós não devemos fazer coisas com intuito de receber. Essas nossas armadilhas hábeis e lamentáveis só nos tornam iscas da nossa própria insensatez capitalista e plástica, capaz de deslumbrar um mundo de constante queda espiritual. A mente humana está aberta ao reconhecimento fascinante da nossa conexão tão evidente entre nós mesmos.
Transforme o caos em cosmos, desvende-se.
segunda-feira, 15 de março de 2010
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8 comentários:
Muito legal o texto..bela expressão.
Gostei do seu blog
é bem diferente..e interessante de se ver
otimo blog virei seu fan
mtu bom o texto
parabens =D
Perfeito esse seu blog....visitarei com mais frequencia.
nossa que legal encontrei um blog que pensa como eu rs, adorei seu blog, como vc msm disse agente escreve +- na msm sintonia. Vou te Seguir apartir de agora? vc qr me seguir tbm? abraço
http://edsoncampos1991.blogspot.com/
Hum... é impossível não ter curiosidade e admiração.
Amo suas idéias, Paula. Desejo que elas não sejam só sua! Mas a soma delas, bem sei que inevitavelmente pode ser apenas de uma só pessoa.
:P
Ah, Jung. Já me disseram tantas vezes pra ler um pouco. Seu post me animou. Adorei esse gadget de música. Vou colocar no meu tb. E que bela seleção. Já me peguei entrando aqui só pra escutar e me acalmar um pouco, elevar as ideias.
Te agradeço por dizer ao mundo o que é o mundo, Muitas vezes o homem esquece que é um ser espiritual, esquece que é mais parte da natureza que da civilização, prefere se chamar de animal e agir como Deus, pixando o trabalho do proprio e ele não poem ninguem a traz de uma grade por isso .
Gostei muito de ler isso , fica com Deus garota e que Deus nos ajude, voce é nova de mais e tem conteudo de mais, queria saber o q se passa na sua cabeça .
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